XXIII - "Abrindo o portão do sitio ou melhor da África" e trazer para a Avenida todo aquele cenário de misticismo e magia do Afoxé, e buscar suas origens la na Nigéria numa região denominada Lagos, no reino de Oloxum onde se realizava a festa de Domurixá ai veio na minha cabeça uma letra e melodia que passei para o papel e comecei a solfejar, aquilo que seria o ponto de partida da nossa obra. A maioria dos compositores principalmente da minha época se atinha apenas no conteúdo da sinopse, eu não sei se por ser novo na área de samba enredo ou por querer fazer algo diferente, peguei o habito de pesquisar fundo os temas a mim confiado, principalmente quando o assunto e a misteriosa África com seus feitiços fascinios, encantos, um mundo insondável, místico, magico, colossal e foi numa dessas pesquisas que encontrei num livreto do Ministério de Educação e Cultura, uma narrativa da Mãe Menininha do Gantuá, sobre uma viagem que fez a Nigéria justamente na região de Lagos, quando ela constatou que Xangô, o único Orixá que viveu na terra como ser humano, e era originário da região de Lagos tinha predileção por Camelo (Embora o santo homem era uma espécie de São Francisco de Assis, amava a todos os animais), o julgava como animal sagrado por sua longevidade e resistência a sede ao sol e a chuva, e também encontrei no livro "África maravilha do terceiro mundo" a mesma referencia sobre o Camelo, muito diferente do que se propaga dirigentes do Candonblé no Brasil. (Mais tarde voltaremos a esse assunto) Então fui amadurecendo a ideia que a ultima frase do samba seria [Xangô em seu camelo sagrado/esta é a história do Afoxé/ que hoje desfila pelas ruas em rituais/ louvando os Orixás] e depois viria uma refrão cujo a letra não deixaria de ser de domínio público, só que colocaríamos uma melodia contagiante e de fácil assimilação, feito o esboço do samba fui procurar o João Belém para mostra-lo, foi numa tarde de segunda-feira o João trabalhava como motorista e transportava material para uma obra da Prefeitura Municipal de Niterói, num canteiro no final da praia de Icarai, depois de espera-lo algum tempo ele apareceu, surpreso com a minha presença em seu local de trabalho me indagou, - Você por ai. - É eu vim te mostrar alguma coisa que já aprontei do samba, depois de algumas conversas fora, comecei a cantarolar frases melodicas já pronta da nossa obra, e também o pus a par da conclusão a que tinha chegado em relação a interpretação do texto, comecei a notar que o que tinha feito o tinha agradado em cheio, depois de dar um sorriso de orelha a orelha ele disse; - Isso é uma bomba vamos pegar esse caminho, marcamos para fechar o samba no dia seguinte terça-feira, terminamos a obra e depois de solfejarmos bastante ficamos com a certeza que tínhamos feito um belo trabalho, nisso olho para o parceiro e tomei o maior susto, o João chorava copiosamente, só alguns tempos depois é que fui descobrir que meu amigo era um chorão contumaz, me convidou para no domingo seguinte ir comer uma feijoada na sua casa no morro do Abacaxi, queria me apresentar a sua família e alguns amigos de confiança lá do morro, ao chegar em sua casa constatei o tanto que o parceiro era querido na área, sua família além de ser grande, havia um bom numero de amigos na feijoada, depois de soborearmos a dita cuja e beber varias loiras soadas, convidamos o pessoal que não era pouca gente, para passarmos o samba, não foi surpresa nenhuma que depois de cantarmos algumas vezes a galera já cantava junto com a gente, dai a empolgação tomou conta de todos e eu ali extasiado ouvindo aquelas pessoas cantando com alegria me sentia um rei, tinha chegado o anoitecer e la do alto da favela olhando para baixo via casas e edifícios com suas luzes acesas numa explosão de brilho e cores numa beleza ímpar, senti meus olhos lacrimejarem, era a emoção de mais um trabalho feito um trabalho feito com amor, carinho e muita responsabilidade
XXIII -
XXII - Ao olhar para os rostos dos três diretores da junta, eu vi nitidamente estampado uma surpresa desagradável, pensei , por essa eles não esperavam, e tenho certeza de ter visto nos semblantes dos Diretores da Escola. aquele sorriso maroto disfarçado como se estivessem pensando; Quiseram armar e se deram mal. Ai a gente nota o quanto em poucos segundos temos a percepção de tantas coisas gira em nosso redor, absolvido no meu pensamento der repente ouço o João Belém me indagar como se não estivesse acreditando: - Você esta falando sério?; É lógico que estou, senão não faria essa proposta na frente de todos que estão aqui presente. Sim ou não, ele é claro que aceito, então continuei..- Fica assim fechado a nova parceria da Cubango para 1979, Heraldo Faria e João Belém. Passado esse assunto, o Presidente da Escola tomou a palavra e anunciou o enredo que seria "Afoxé" e em seguida apresentou a todos o carnavalesco que passou narrar o enredo, - Afoxé é um cortejo, dança-folguedo ligado ao candomblé, e acontece geralmente na sexta-feira que antecede o Carnaval, desfila pelas ruas cantado musicas em dialetos Africano, pedindo licença e proteção aos Orixás, para que a paz reine principalmente nos três dias de folia, etc. etc... Depois da explanação do enredo, ao sairmos da reunião conversei com o João Belém qual seria a melhor maneira da gente compor, me lembro que ele me disse que iria conversar com o parceiro dele João Bolão e depois se reuniria comigo, no que retruquei na mesma hora, - Nada disso, ou eu e você sentamos para fazer juntos, ou eu vou fazendo alguma coisa e você também e depois nos reuniremos para fechar o samba, não podemos aceitar intromissão de terceiros, e mais a mais o Bolão nem faz parte da Ala de compositores, no que ele aceitou no mesmo momento, tudo combinado, nos despedimos com abraço forte e naquele abraço eu percebi que o João estava empolgado em relação a parceria, fui para casa com o pensamento na sinopse e doido para chegar e começar a estudar o enredo, naquela noite só fui dormir na madrugada, li varias vezes a sinopse e pesquisei alguns livros do culto afro-brasileiro até que cai nos braços de morfélia, no dia seguinte acordei com a ideia de ir para o sitio do meu sogro que fica a uns dois quilômetros e meio da minha casa, ou melhor do centro de Cachoeiras de Macacu, um lugar prazeroso, silencioso e acochegante, onde a gente só ouve o cantar dos passaros, o som agradável do tilintar das cachoeiras e riachos e o uivar dos ventos cortando as matas verdejantes, da ideia a ação, pus-me a caminho do sitio, e ao chegar lá e vislumbrar a porteira que da acesso ao mesmo, me ascendeu a luz da senhora inspiração clareando a minha mente; Porque não começar a escrever partindo dali.
XXI - Nesse interim, o diretor Ary Sérgio chegou a mim e falou - o Tapê esta no salão debaixo em companhia de Clebinho e Flavinho e pediu que você como secretário desse inicio a reunião e participasse ao plenário o que foi decidido a respeito de João Belém na reunião da junta governativa da Ala de compositores, que eles já estão subindo. Mas é lógico que eu não iria falar nada na ausência deles, fiquei esperando alguns minutos, até que o Presidente da Escola tomou a palavra e disse - Bem vamos dar inicio a reunião; Ai eu ponderei, Sr. Presidente, a junta governativa da Ala tem uma decisão a participar aos compositores e a Direção da Escola, pelo exposto peço para que esperemos alguns minutos, para que possa chamar ai em baixo os outros membros da junta para dar inicio os trabalhos. Assim foi feito, quando os outros membros da junta chegaram, Clebinho logo me perguntou, - E ai já participou a todos a nossa decisão, no que lhe respondi, -Lógico que não estava esperando vocês, notei que ele ficou todo desconsertado, mas em questão de segundos tomou rédeas da situação e falou - Foi bom, porque nos reunimos lá em baixo e achamos por bem por o caso de João Belém para a apreciação da Assembleia, para julgarem e votarem. Apesar daquelas palavras me pegar de surpresa e ter explodido como uma bomba dentro de minha cabeça, parei pensei alguns segundos dizendo para meus botões (é quase cai nessa) e fui em frente tomando a palavra Senhores Diretores da Escola e Senhores Compositores, tendo em vista que o compositor João Belém se ausentou da Agremiação desde o final de samba enredo, não comparecendo a um ensaio sequer, e nem mesmo a uma reunião da Ala, a junta governativa da Ala, resolve colocar para a apreciação da Assembleia dos compositores em face ao exposto; Se o mesmo deveria ou não participar do concurso de samba enredo para o Carnaval de 1979. Tendo feito o relato passaremos a votação: Como vota o presidente da Ala.- Clebinho que não esperava que eu fosse começar a votação por ele, titubeou e disse; - comece por outro, e eu - Nada disso vamos começar pelo cargo mais alto da Ala. Ai ele proferiu o seu voto o que não foi surpresa para mim; eu voto para que ele concorra, e continuei seu voto Tapê, - sigo o voto do presidente e você Flavinho eu também, um a um compositor foram proferindo o voto em favor de João Belém, quando o ultimo compositor proferiu o seu voto, eu declarei; - Tendo em vista que a maioria dos votos foram para que o compositor em palta concorra a disputa de samba enredo, o mesmo esta apto a participar do concurso de samba enredo. Nisso João Tapê socilitou a palavra e cobrou o meu voto no que lhe respondi - Não e preciso votar já que ele ganhou por maioria de votos, e ele insistiu; Se todos votaram você também tem que votar. Ai proferi o meu voto da seguinte forma: - Amigo João Belém, numa reunião na semana próxima passada, da junta governativa da Ala de compositores do G.R.E.S. Acadêmicos do Cubango, foi colocado em pauta pelo presidente da junta uma proposta para que você não participasse da competição de samba enredo na Escola, pelos motivos aqui já citados, todos sem exceção concordaram com o presidente, e eu como Secretário da junta seria o encarregado de participar a Ala de compositores e a Direção da Escola nesta reunião, tal decisão, e hoje estranhamente depois de alguns acontecimentos bisonho, quando eu ia proferir a decisão da junta, o presidente Clebinho propõe que coloque o seu caso a apreciação da Assembleia de compositores o que foi feito. Como na reunião da junta na sua ausência eu votei acompanhando o voto do presidente contra você, hoje aqui na sua presença o meu voto é para que você não dispute samba enredo este ano, e faço questão que meu voto conste em ata, apesar de ser voto vencido. Depois de um silencio sepulcral continuei - Agora lhe pergunto: Já que você esta em condições de igualdade para disputar samba enredo, você quer ser meu parceiro?.
XX - Passado alguns dias após o carnaval eu acordo daquela odisseia que mais parecia um sonho mas era tão real, que esta nos anais da história da Cubango para que todos possam comprovar. Dai passei a pensar e planejar o que faria para o carnaval do ano seguinte em relação a samba enredo já que depois daquele turbilhão de emoções sentidas e vividas, estava empolgado para um novo trabalho, uma nova batalha, o meu primeiro pensamento foi de convidar o Flavinho Machado para formamos uma parceria e elaborar-mos o samba para o carnaval de 1979, passei da intenção a prática procurei o Flavinho e fis-lhe a proposto de nos juntarmos, no que me respondeu; - Eu já tinha pensado nesse assunto, só que meu parceiro João Tapê não aceitou um terceiro parceiro e ainda mais ele acha que por você ter sido Campeão esse ano, reduz ainda mais as nossas possibilidades de sairmos vencedor da competição. Confesso que naquela ocasião fiquei meio decepcionado e triste, mas o que se há de fazer, a gente não manda na vontade dos outros. Naquele período pós-carnaval, o Presidente da Ala de Compositores que era Zé do Norte, havia renunciado do cargo, e a Assembleia da mesma resolveu instituir uma junta governativa, para dirigir os destinos da Ala até completar o período governativo do então Presidente demessionário. esta junta teve a seguinte formação; Presidente: Clebinho, secretário: eu, tesoureiro: João Tapê, e Divulgador: Flavinho Machado, formada a junta o Presidente Clebinho marcou logo uma reunião para o dia seguinte e pôs em pauta a situação de um dos compositores da Ala; João Belém, alegando que o referido compositor, havia faltado a todos os ensaios da Escola após a decisão do samba enredo, e que no decorrer da disputa o mesmo só chegava alcoolizado na quadra, (É bom lembrar que João Belém morava no morro do abacaxi, berço da Escola, e por sua humildade, educação e ser uma pessoa imensamente prestativo, embora nunca ter ganho um samba enredo até aquela data na Escola, era o compositor mais querido da Escola, e toda a comunidade gostava dele), feito a explanação propôs que João Belém não participasse da disputa de samba enredo naquele ano posto em votação, João Tapê e Flavinho acompanharam o voto da Presidência, e eu como compositor mais novo, acompanhei o voto dos mais antigos. Ficou combinado que a próxima reunião seria na data da entrega da sinopse, e como Secretário da junta ao iniciar a reunião participaria a Ala e a Direção da Escola a decisão tomada pela junta. Passou-se o tempo, eis que chega o dia da apresentação do Carnavalesco e consequentemente da entrega da sinopse, bons tempos em que tudo era guardado a sete-chaves, tudo para que os adversários fossem pego de surpresa na Avenida, Na reunião estavam presente todos o compositores, faltando justamente os outro três membros da junta, nisso chegou o Presidente da Escola acompanhado por alguns diretores e uma pessoa que eu não conhecia que logo em seguida ficamos sabendo que era o Sr. Carlos Alberto da Costa o novo carnavalesco da Escola.
XIX - O bom é que naquela época havia muita união entre compositores, diretores, e componentes de uma maneira geral, tanto é que após aquele desfile majestoso, nos reunimos no final da Avenida, junto aos carros alegóricos, já que fomos a ultima escola a desfilar, mandamos comprar algumas cervejas e ficamos ali tecendo comentários sobre o acontecimento do desfile até a parte da tarde, quando esgotou o assunto fomos levar os carros para o barracão da escola que ficava atraz do antigo Maveroy, perto do Moinho atlântico, no ginásio da antiga CEDAE, depois já exausto peguei o meu ônibus para Cachoeiras de Macacu onde passei o resto do Carnaval. Chega quanta-feira de cinzas, acordei cedo uma tremenda ansiedade veio me abraçar, me arrumei e desci para Niterói, para assistir a apuração que seria efetuada no Quartel do Décimo Segundo Batalhão de Policia Militar, ao chegar lá, encontrei o ginásio lotado nas arquibancadas um alvoroço, bandeiras, baterias de diversas escolas de samba em cada torcedor a gente sentia a ânsia, a expectativa do resultado favorável, era latente a manifestação de amor pelas suas bandeiras, me juntei ao pessoal da Cubango confiante de um bom resultado, eis que começa a contagem dos votos, nos quatros primeiros quesitos a Cubango e Viradouro vinha mantendo uma disputa ferrenha ambas com dez em cada quesito, eu ouvi bem quando o comunicador da Associação das Escolas de Samba de Niterói anunciou "O quinto quesito é samba enredo", me lembro que as escolas eram chamadas por ordem alfabéticas, ele começou Caçadores da Vila nota tal, Combinados do Amor, tal, Corações Unidos nota Tal, Cubango, deu uma pausa, foram segundos que parecia uma eternidade, meus neurônios parecia que iam explodir meu coração acelerou fazendo subir minha batida rítmica ao ouvir soar a voz que dizia Cubango dez nota dez, senti um alivio tão grande que parecia que um peso de uma tonelada teria saido de cima de mim, e naquele quesito a Viradouro perdeu o carnaval tirando 8,5, continuou a votação e a cada dez que a Cubango tirava, era uma explosão de alegria no final da contagem foi anunciado "Cubando Campeão do carnaval de 1978". Foi contagiante a euforia que tomou conta de toda a nação Cubanguense, abraços, choro, risos, gritos de é campeão, apareceu o mestre sala e porta bandeira da Cubango com seu pavilhão, peças de bateria e foi com muita alegria que eu vi Sororóca um eis goleiro e dos bons com suas esposa ele tocando cuica e ela no chocalho, foi se formando um grande bloco e saimos do quartel na Jasem de Mello pegamos Av. Feliciano Sodré, desembocamos na Alameda São Boa Ventura, subimos e descemos a 22 de Novembro cantando, sambando e paramos na Noronha Torrezão em frente ao terreno que hoje e a séde da Agremiação, ali encontramos com uma multidão incalculável comemoramos com fogos de artifícios e bebidas até não podermos mais, afinal de contas não é sempre que uma escola de samba se sagra tetra-campeã do Carnaval consecutivamente
XVIII - Me lembro que quando nos chegamos estava desfilando a Corações Unidos uma escola do Largo de São Jorge que fica lá pelas bandas da Engenhoca, era a ante-penúltima Escola a se apresentar, logo em seguida viria a Viradouro, e por ultimo a nossa Escola, já que a campeã fechava o desfile, e bom frisar que a concentração ficava na Av. Visconde do Rio Branco, partido do antigo mercado Santo Antonio entreposto de peixe da cidade, passava pelo extinto cinema Odeon e entrava em curva para subir a Avenida Amaral Peixoto local de desfile. E a chuva teimosamente continuava caindo sem dar uma trégua se quer e os nossos componentes se amparando da dita cuja, debaixo das marquises para que não estragasse as fantasias e os nossos carros alegóricos já posicionados para o desfile coberto com lona de plástico preto para proteger nossas esculturas, enquanto isso a Viradouro estava na chuva pronta para iniciar o desfile, com as fantasias já prejudicadas todas molhas e as alegorias já perdendo seu brilho, sua beleza pois as águas da chuva era implacável. Foi a Vermelho e Branco começar a desfilar, como se fosse um encantamento a chuva parou de cair o tempo se firmou, talvez estivesse atendendo as orações da Mãe Luizinha, Babalorixá de um centro que ficava no Morro do Serrão e também Presidente da Ala da Baianas da Cubango. Aos poucos os componentes da Verde e Branco foram abandonando as marquises e sob a orientação da harmonia tomando seus lugares para a armação da Escola já sem chuva nenhuma que atrapalhasse, quando do carro de som surge a voz possante de Mário Dias, comunicador oficial da Escola na Avenida pedindo garra e amor ao nosso pavilhão, a emoção invadiu a minha alma e meu coração parecia disparar, em seguida vem Flavinho Machado puxador da Escola, da seu grito de guerra e consequentemente iniciando o canto do Samba Enredo "O meu primeiro samba enredo", entrei em êxtase, a felicidade era tamanha que seria dificil descrever, ao adentrarmos a passarela e ao ouvir a escola o povo nas laterais e nas arquibancadas da Avenida cantando com tanta empolgação, eu conseguia sentir na minha vaidade incontida que tudo quilo era consequência de um trabalho harmonioso, de uma engrenagem onde todos eram participativo onde imperava o amor, as nossas cores, a garra e a vontade de vencer, vencer e vencer, como seria bom se eu pudesse abraçar a todo mundo, agradecido por toda aquela manifestação de carinho com a Escola e ao samba em geral. E o cortejo irreal seguia em sua euforia, quando de repente aconteceu o inusitado, a Escola chegava a altura da rua Visconde do Uruguai onde ficava o antigo I.P.A.S.E., justamente no momento em que se cantava as duas ultimas linha do samba que dizia "Quando o sol resplandece no horizonte/Surge um novo dia radiante" naquele exato momento apareceu no alto no final da Avenida, um esplendoroso sol vermelho resplandecendo uma beleza infinda, parecia que a natureza em veneração vinha colorir ainda mais o verde e branco da Cubango e a Escola crescia cada vez mais em canto em empolgaçãoe em evoluçao parecendo um presságio de um grande acontecimento, e quando estavamos finalizando o desfile se ouvia a multidão gritando "já ganhou, já ganhou e campeão e campeão..." e saímos da Avenida Felizes e realizados na certeza do dever cumprido, agora era aguardar a apuração que seria na quarta-feira de cinzas.
XVII - Após esse fato lastimável e inconsequente que originou o afastamento definitivo da minha esposa da escola, ela ficou tão decepcionada que nunca mais pois os pés na Cubango. Mas é vida que segue, continuei na minha rotina divulgando o samba, hora nos pontos dos compositores, (Niterói - Rio) outras vezes nas rádios, e nos ensaios da escola, nas sextas-feira no Fluminense A.C, e nos domingos no Fonseca A.C., e ainda continuando com a minha mania de frequentar o barracão, indo lá quase todos os dias, me fascinava os trabalhos do ferreiro, carpinteiro, aderecista, decoradores, pintores, chapeleiro, em fim em tudo naquele mundo da magia e fantasia, curiosamente queria ficar a par de como tudo aquilo funcionava. Naqueles tempos, eram poucas as pessoas que trabalhavam no barracão, somente aqueles abnegados, verdadeiramente apaixonados pela Escola e pelo carnaval, e a Cubango não era diferente das outras. Havia uma comissão de carnaval presidida pelo presidente Ney Ferreira e o vice Nilton Bastos mais conhecido como Niltinho do Bar, que era também o patrono da escola, aquele que salva a escola nos momentos de apertos financeiros, essa comissão era formada por Luiz Beleza (Diretor Geral da Escola), Nenem chefe do barracão e os Diretores, Ary Sergio, Fraga, Luizinho carpinteiro e Eurides, verdadeiros baluartes que davam o sangue pelo Pavilhão Verde e Branco trabalhavam incansavelmente com um unico objetivo ser mais uma vez campeão, já que a escola havia alcançado o tri-campeonato consecutivo, não se pode esquecer também daqueles auxiliares da comissão que trabalhavam dia e noite para que a Cubango brilhasse na passarela, Dragão, José Carlos e Jorge Fofoca esse era o pinto do barracão. Certa vez aconteceu um fato hilário com Jorge Fofoca, naqueles tempos, cada escola tinha seu carro de som, que era pintado e decorado para o desfile, e bom ressaltar que o puxador oficial vinha cantando em cima desse carro e quando chegava em frente ao palanque das autoridades, postado na altura do meio da avenida, o puxador saltava do carro e pegava o microfone da Avenida onde o som se espalhava do inicio ao fim da mesma. O Jorge estava no barracão e já tinha tomado todas, quando Ary Sergio lhe pediu para pintar o carro de som, por dentro e por fora com tinta branca, e Fofoca se pos ao trabalho, passado algum tempo, já com o carro todo pintado Ary procura pelo jorge, e não o encontrando pergunta e ao mesmo tempo e exclama - Vira o Jorge por ai, ele tomou todas e deve estar domingo em algum lugar. Ai alguém lhe respondeu - O Ary Sergio você esta cego, não esta vendo o Jorge sentado na frente do carro de som. Ao olharmos para o carro lá estava o Fofoca mais parecendo um boneco de isopor completando uma alegoria, mais pintado de branco do que o próprio carro, ao pintar o carro por dentro ele estava tão pinguço que balançava igual um barco a deriva indo de um lado para o outro se esbarrando nas laterais do carro pintando e se pintando. Essa comissão foi pau pra toda obra verdadeiros heróis da escola, fizeram de tudo desde a confecção do enredo até tirarem os carros do barracão e levarem para a Avenida e depois trazerem de volta após o desfile. Nesta rotina dia e noite, sol e chuva chegamos ao grande dia de carnaval, já havia experimentado a sensação de vencer um samba enredo, agora a expectativa era de ver meu samba ser cantado na Avenida Hernane do Amaral Peixoto, tendo em vista que o escritor Jorge Amado depois de ser enredo de uma das escolas da Cidade, ter feito uma declaração de que Niterói teria o segundo melhor carnaval do Brasil na época. Ao chegar o grande momento, eu estava em Cachoeiras de Macacu havia desfilado pelo Gangury uma escola daquela cidade e que por um acaso o samba também era de minha autoria, após um descanso razoável, fui para o centro da cidade encontrar com a rapaziada e naturalmente beber umas cervejas, por volta das vinte e duas horas, quando já tinha bebido todas, deparei com minha esposa e um dos meus cunhados chamado Talis, então ela perguntou-me - Você não vai desfilar na Cubango?. E eu respondi - Vai se a ultima escola a desfilar é lá pelas cinco da manhã, e ela - Pois é, o ultimo ônibus sai a meia noite, depois desse você perde o desfile, sai correndo tropeçando nos calcanhares fui em casa tomei um banho me arrumei, ai minha mulher me avisou que meu cunhado iria me acompanhar, pois eu estava pra lá de Bagdá, conseguimos pegar o ultimo ônibus, foi eu sentar na condução peguei no sono, quando acordei estava chegando em Niterói, chovia torrencial mente, saímos da rodoviária fomos nos protegendo debaixo das marquises até chegarmos ao local de desfile,
XVI - Depois dessa estreia na Rádio Globo eu me sentia o mais feliz dos seres humano, ainda mais que no dia seguinte ao ir a esquina dos compositores em Niterói, só se falavam do samba que foi tocado na madruga e os sambistas que ali estavam ou que por ali passavam paravam para comentar a minha entrevista e me parabizavam pelo samba o que me enchia de orgulho por entender que minha obra estava agradando a maioria. E assim comecei um trabalho de divulgação, seguindo uma rotina semanal, ás terça-feira na madrugada ia ao programa de Adelzon e ás quinta-feira ás quinze horas no Galego, nas sexta ao ensaio da Escola no Fluminense A.C. no centro de Niterói e no Domingo ao sambão do Fonseca, também em Niterói. Num desses domingos, resolvi convidar minha esposa para ir ao samba no Fonseca e olha que ela ainda não conhecia uma escola de samba a não ser por rádio ou televisão, saimos da casa da minha mãe por volta das dezoito horas rumo ao ensaio que começaria as vinte horas, eu ia pensando com os meus botões -Minha mulher vai ficar orgulhosa por mim, já naquela vaidade de compositor, supondo a maneira calorosa que seria recebido na Escola e também meditava como ela ficaria feliz ao ver meu nome ser anunciado como vencedor do samba oficial da Escola, como o presidente havia comunicado aos compositores que nos ensaios teríamos direito de levar três convidados com entrada gratuita, ao chegar na portaria do club, deparei com um dos diretores da escola recepcionando os convidados me dirigir a ele comprimentei o e apresentei a minha esposa. Ai veio a minha segunda decepção parecia que o céu desabava sobre minha cabeça ao ouvir aquela voz autoritária - Você entra ela não, a não ser que pague o ingresso. Naquele momento tudo rodou em minha volta, minha vista escureceu me envolveu uma onda de rancor tão grande, eu não podia acreditar ser possível que aquele diretor que estava ali para dar as boas vindas a quem chegasse pudesse tratar uma pessoa para mim, tão meiga tão querida de uma maneira tão grosseira e tão brutal (Você entra ela não), aquelas palavras ficaram martelando na minha cabeça por alguns segundos, não se com razão ou não numa ira incontida dei um empurrão com tanta força naquele individuo fantasiado de diretor que o mesmo foi cair a uns dois metros de distância, adentrei o salão da quadra, segurando minha esposa pelo braço, coloquei-a sentada num lance de arquibancada e lhe disse fica me esperando ai que vou falar com o presidente da Agremiação, e voltei voltei em direção a portaria possesso para acabar minha conversa com aquele diretor inconviniente, quando ali cheguei fui cercado por vários diretores tendo a frente o preseidente Ney Ferreira que me falou de imediato. -Calma; você esta com a razão, lhe garanto que ao tomar conhecimento do acontecido, afastei o referido diretor da portaria, e levarei o ocorrido para a reunião da diretoria na próxima terça-feira para as providências cabiveis em caso dessa natureza.
XV - Continuei ali atá umas quinze horas, conversando diversos assuntos sem me esquecer de contar a minha odisseia do samba enredo, naturalmente recebi sinceros comprimentos. e é bom dizer que naquela época era muito grande o respeito que o compositor tinha um pelo outro, dali fui para a rádio Roquete Pinto onde naquele horário acontecia o programa de Zé Galego já mencionado anteriormente, sentei-me junto com outros amigos na platéia enquanto o programa seguia com seu curso normal, até que em determinado momento o apresentador pegou o microfone e disse - Já temos uma escola de samba que escolheu o seu hino oficial para o carnaval de 1978 e ela é la do outro lado da possa, fez uma pequena pausa e anunciou; Acadêmicos da Cubango, e o autor do samba esta aqui presente e vai nos presentear com sua linda obra: Chega mais Heraldo Faria. Naquele momento senti aquele friozinho na barriga, o nervosismo foi me abraçando, as penas pareciam não querer me obedecer, e foi suando em bicas que fui me levantando do lugar que estava sentado, e ao olhar para o lado do palco vislumbrei a figura de Mariozinho segundo puxador da escola, e me olhava sorridente, ai pensei com os meus botões, ali esta meu salvador, ao me aproximar do mesmo êle perguntou-me -Quer que lhe reforce no palco?, e eu lhe respondi -Reforçar uma óva, você canta e eu lhe ajudo, e assim foi feito, ao acabar a apresentação o apresentador teceu comentários elogiosos com referencia ao samba e naturalmente anunciou a presença de um dos puxadores da Cubango, ao descer do palco depois de agradecer muito a Mariozinho, fiquei ao seu lado para assistir o restante do programa, num dos intervalos musical o Zé Galego veio a onde eu estava e falou - Aguarde o final do programa com o seu puxador, que nós vamos gravar o samba nos studios da Rádio, ai ponderei, -Zé mas esse não é o puxador oficial da escola, e ele me respondeu - Vamos gravar com ele mesmo, porque depois os studios vai ficar ocupado e não sabemos quando ficará disponivel novamente. E assim foi feito, fizemos a gravação com o conjunto realidade e na voz de Mariozinho, naquele tempo não havia muitas oportunidades de gravação e aquela nos abraçamos com carinho eu e Mariozinho não sabiamos como agradecer ao pessoal da gravação tamanha era nossa felicidade e ainda mais que o Zé arrumou uma patrocinadora para prensar um compacto simples; no lado A o samba enredo e do lado B um samba de quadra também da Cubango. É bom lembrar que o gravação não ficou da melhor qualidade mas como cavalo dado não se olha os dentes e mais a mais na minha concepção aquela era uma obra prima de gravação o meu primeiro samba enredo em disco o que iria querer mais. Dai comecei uma maratona para divulgar o samba, o Zé Galego me recomendou que procurasse o comunicador Adelzon Alvez na Rádio Globo, na ocasião ele fazia o programa "Adelzon Alves o amigo da madrugada" naquela emissora das zero horas a quatro da madrugada ao chegar a portaria da rádio eu me lembro que o porteiro era o Sr. Miguel (que mais tarde nos tornamos amigo) me recebeu cordialmente, pegou minha identidade e me mandou subir para o quarto andar onde ficava os studios. ao pegar o elevador eu me beliscava para ter certeza que não estava sonhando, ao adentrar tão famoso studio e deparar com Aldezon Alves e ouvir sua voz já minha conhecida através da programação noturna da Globo eu pensei acorda que isso é real, e aquela voz me perguntou, - É compositor de samba, trouxe material?. E eu timidamente lhe respondi -É sou compositor estou vindo de Niterói, e ele mais que depressa; - É da Viradouro vem a mando do Albano e eu -Não sou da Cubango e vim a mando do Zé Galego da rádio Roquete Pinto, ele mandou eu sentar na mesa ao lado dêle e pouco depois começou a me entrevistar: Eu me lembro que começou a entrevista falando; estamos aqui com o compositor Heraldo Faria lá do outro lado da Bahia de Guanabara e é vencedor do samba enredo da Escola de Samba Academicos da Cubango, eu queria dizer que é um prazer receber aqui pela primeira vez um sambista da Cubango, pois até a data de hoje só veio aqui pessoal da Viradouro através de Albano de Mattos e em seguida começou a entrevista, perguntou sobre a programação, enredo etc.etc.
XIV - Chega segunda feira ainda com o gostinho das comemorações dos dias anteriores, tomei o Rumo da Cidade do Rio de Janeiro, com dois objetivo, primeiro ir a um dos ponto dos compositores, que na época se concentravam na galeria 77 na final da Avenida Visconde do Rio Branco, em frente a praça Mahatma Gandhi (final da Cinelandia) ou na Avenida 13 de maio esquina com Almirante Barroso, próximo ao Teatro Municipal, afinal de contas eu era um compositor vencedor de samba enredo, e chegando a Galeria 77, la encontrei vários compositores de Escola de samba, como Anescarsinho, Geraldo Babão (compositor folclórico não só do Salgueiro como do mundo do samba), Gracinha e Paulo Negrão todos do Salgueiro. Dedé, Ary do Cavaco e Ary Guarda da Portela, Jurandir, Rubens da Mangueira, Otacilio e Darcy esse da Mangueira, Toco, Ney Vianna e Domenil, da Mocidade Independente de Padre Miguel e muitos outros ligado ou não ao mundo do samba. Nós nos concentrávamos ali de preferência por que no quinto andar do edifício daquela galeria funcionava a gravadora Odeon e por ali passava uma infinidade de cantores e era a oportunidade de conversarmos com os mesmos lhes mostrar as nossas musicas e também lhes entregar fitas para futuras gravações e nesse dia aconteceu um fato hilário; um mês antes o Cantor e compositor Roberto Ribeiro, que fazia muito sucesso naqueles tempos, havia passado naquele local e recolhido fitas de vários autores, já que estava organizando seu repertório para o próximo disco, entre as fitas foi lhe entregue uma de J. Canseira e Marimbondo, dois goza dores que quando tomavam umas e outras viviam dizendo que Roberto não ouvia as fitas que só gravava musicas de compositores do Império ou de amigos, apesar dos dois serem grandes amigos do mesmo, e assim resolveram armar para cima do cantor, gravaram uma fita na qual falava em toda a sua extensão dos dois lados, entabulando uma conversa entre os dois. Tipo assim: - Ai parceiro o Roberto Ribeiro nem vai ouvir essa fita e outro respondia - É amigão ele é mal carater só grava dos parceiro dele, e o outro - É ele é moleque mesmo, depois vem dizer pra gente que as musicas não estavam no espirito do disco e coisa e tal. e assim continuaram até acabar a fita. E por uma dessas ironia do destino, naquele dia Roberto Ribeiro passando pela Galeria, como bom amigo e parceiro que era, parou com a rapaziada e entrou no papo animado, certamente falando de musica, escola de samba, mulheres etc.etc.., foi quando de repente por traz da roda soou a voz forte e já arrastada de J. Canseira, - Como é Roberto já fechou o disco, já escolheu todas as musicas e Roberto simpático e sorridente lhe respondeu: - Já e certamente não tem nenhuma sua e nem do Marimbondo, você e seu parceiro me mandaram uma fita dizendo que eu só gravava compositores do Império e meus amigos, me esculhabaram durante toda a gravação, e olha que ouvi a fita toda na esperança que no final houvesse uma musica, apenas uma, e só ouvi sacanagem. J. Canseira virando-se para Marimbondo exclamou - I! parceiro o cara houve as fitas mesmo, perdemos nossa grande oportunidade todos caíram na gargalhada foi uma gozação geral pra cima dos dois.
XIII - Acabando a euforia da quadra rumamos para os ónibus em direção a Cachoeiras de Macacu, a alegria era tanta que muitas das vezes eu chegava as lágrimas, cantos, brincadeiras, gozações, mas o que mais se ouvia era o grito de "É campeão, é campeão é campeão", e assim foi nosso retorno simplesmente alucinante e triunfal, ao chegarmos a nossa cidade entre cinco e meia a seis horas daquela manhã de outono quando a claridade do raiar do dia vinha surgindo entre as grandes montanhas da serra do mar que se descortinava a nossa frente com suas majestosas matas verdejantes de uma beleza infinda e o vento me trazendo aquele perfume de capim molhado e o seu uivar chegando aos meus ouvidos como se a natureza estivesse me parabenizando, era um sonho sonhado de uma realização ímpar que parecia impossível e se tornou realidade. A medida que os torcedores iam descendo dos ónibus se organizavam em um grande bloco de empolgação, foram aparecendo peças de bateria, confetes, serpentinas e fogos de artifícios que explodiam naquela manhã radiante acordando os moradores que saiam para as ruas e se juntavam ao nosso bloco de carnaval, engrossando as nossas fileiras aumentando ainda mais nossa empolgação. E assim saimos pelas ruas da Cidade, sambando, cantando, sorrindo, chorando, comemorando um feito inédito não só para mim mais também para todo o povo de Cachoeiras de Macacu, num verdadeiro carnaval fora de época. Comemoramos a nossa vitória até o entardecer daquele sábado inesquecivel quando a exaustão foi tomando conta de todos e aos poucos fomos nos retirando para os nosso lares para um descanso merecido e eu na alegria de um vencedor com medo de ter sido tudo um sonho. Acordei no domingo com a imprenção ainda de que havia acordado de um devaneio lindo, foi ai que ao sair a rua para ir a padaria comprar o pão matinal é que ouvi aquela voz soar bem perto. - Parabéns campeão você mereceu. foi naquele momento que me dei conta que não havia sonhado eu realmente tinha vencido o samba enredo na Cubango. E mais tarde naquele domingo ensolarado ao sair a rua para um passeio eu notava que as pessoas passavam e me comprimentavam diferente, talvez fosse imprenção minha , mas notava em cada olhar um brilho de alegria como se todos fossem parceiros do samba, e pensando bem todos foram mais que parceiros, com toda aquela energia positiva era impossível não sair vencedor, e o mais gratificante foi ver que em cada esquina, nas praças, na Rodoviária, nos bares em cada canto da cidade fomavam grupinhos para comentar o feito da noite anterior e que se tornou um fato marcante para o povo do lugar na época.
XII - Fui para o bar da quadra com Candinho e Jaburu para bebermos uma cerveja já que a tensão era muito grande, isso é para mim, pois os meus dois amigos do peito e de copa já estavam para la de Bagdá ou seja totalmente pingussos, tinham tomado todas, e naquela euforia falavam - Eu não disse ganhamos, o samba explodiu na quadra vamos brindar e batiam os copos, eu falei - Vamos esperar o resultado e pensando com meus botões, cara você já é um vitorioso chegou até a final quando nem mesmo você acreditava que chegasse tão longe, e naquele devaneio der repente fui despertado pelo vozeirão de Mário Dias, e nesse momento ao olhar para fora da quadra me deparei com um cenário maravilho um céu azul límpido clareando, estava raiando um novo dia e Mário chamou todos os compositores finalista para irem até o palco ao chegarmos ao palco lá estavam o Presidente da Escola Ney Ferreira, o Patrono Nilton Bastos (Niltinho do Bar), Lenine e muitos outros Diretores, e eu e os outros compositores finalistas numa só ansiedade, ai debaixo daquele silencio da espera do resultado final, Mário começou a falar -Nesta noite madrugada de hoje foram apresentadas três verdadeiras obra primas de samba enredo, infelizmente a Escola só pode desfilar com um, mas qualquer das três obras aqui apresentada poderiam muito bem representar a escola e a mesma estaria bem servida e assim sendo, e por decisão unânime da comissão de Carnaval o hino que irá representar a Cubango para o Carnaval de 1978 é de (e fês uma pausa que parecia uma eternidade)... Heraldo Faria. Aquela voz naquele momento soou como uma bomba na minha cabeça, sou eu, será que estava sonhando, eu teria ouvido direito, eu até hoje não poderia expressar o que senti naquele instante, senti as pessoas me parabenizando, fui abraçado por uma multidão, era uma avalanche de alegria enquanto isso comecei ouvir o samba sendo cantado na vós de Flavinho puxador oficial da Escola junto com outros compositores e eu era levado do palco para o meio da quadra, nos braços do povo, não só dos meus torcedores mas também dos torcedores dos outros sambas em competição bons tempos aqueles que um compositor podia ganhar um samba sozinho sem parceiros, que o adversário sem vaidade, mesmo competindo subia ao palco e cantava o samba do outro, e que havia um interesse maior que era a Escola acima de tudo e de todos, enquanto olhava para o palco e via Clebinho, Coutinho, Betinho, Hugo Camburão, J. Maizena, Delmir e muito outros poetas da ala de compositores cantando o meu samba, e foi naquele momento de emoção plena é que compreendi porque naquela época a Cubango era tão grande a ponto de ser Tri-campeã, era o sentimento de união em torno de um ideal onde torcedores, componentes se uniam com todo os seguimentos da escola num amor só pelo seu pavilhão, fosse o samba de quem quer que fosse, o que interessava é que tivesse conteúdo suficiente para levar a escola a brigar pelo campeonato.
XI - Fizemos o trajeto Cachoeiras Niterói na maior alegria o pessoa cantando o samba dentro dos ónibus, de vez enquanto se ouvia o pipocar dos fogos que eram soltado das janelas dos ónibus, até que chegamos a quadra onde seria realizada a grande final, no Fluminense Atlético Clube de Niterói, foi uma chegada triunfal com o explodir de uma bateria de fogos e minha torcida cantando o meu samba, após colocar-mos todos os torcedores para dentro da Escola, entrei e fiquei num canto conversando com Candinho e Jaburu e mais alguns torcedores, aguardando ansioso que fosse chamado para o sorteio, passado alguns longos minutos, eis que somos chamados para o sorteio na secretaria após o presidente fazer aquela recomendação natural de uma final de samba enredo, fomos tirar o numero e o meu samba foi sorteado para ser o ultimo a ser cantado, logo depois o presidente queria saber quem seria os puxadores dos samba no qual eu lhe disse que por não ter um puxador para a final eu mesmo iria interpretar o meu samba, eu observei que o mesmo coçou a cabeça e disse a disputa vai começar a 01,00 hora em ponto felicidades para todos. eu me lembro bem que me posicionei ao lado do palco nessa altura Dana. Wanda e Dana. Nilsa estavam perto de mim e bastantes nervosas, no outro lado da quadra estava os meus adversários diretos Flavinho e João Tapê, observei também que Flavinho de vez enquanto me olha pensativo, parecendo que queria me falar algo, ou era só impressão minha?. E eu ali com os meus pensamentos já que Flavinho era o puxador oficial da Cubango e cantava muito enquanto eu ... será que conseguiria levar o samba até a ultima estrofe... Foi ai que vi o Flavinho atravessar a quadra em minha direção o que me deixou curioso, quando chegou perto me disse. - Heraldo, você confia em mim, no que lhe respondi -É claro qual o motivo que teria para não confiar?. no que me respondeu - Então vai trabalhar a quadra que eu vou cantar o meu samba e o seu, dito isto voltou para o seu lugar e fiquei ali de boca aberta, pasmo, aboblhado, será que eu havia ouvido direito. Depois de ter sido cantado os três sambas que estavam na final comigo, inclusive o da dupla Tapê e Flavinho eis que sou chamado no palco para a última apresentação da noite festiva, fui me encaminhado para o palco quando vi o Flavinho pegar o microfone e dizer -Em vista do cantor do samba de Heraldo por motivo particular não poder cantar hoje, eu como puxador da escola me sinto na obrigação de interpretar o referido samba, na quadra um silencio total de perplexidade ninguém entendeu nada, e ai Flavinho deu seu grito de guerra para em seguida começar a cantar. Eu fiquei por alguns minutos extasiado de emoção, quando ouvi a minha torcida o meu povo cantando com uma alegria incontida, fui para o meio da quadra vivendo um dos momentos mais lindo da minha vida, pensei se o meu coração não parou, não vai parar mais ouvia o canto da massa misturado com ecoar dos fogos de artifícios confétes, serpentinas, alegorias em forma de argolão e bandeiras e eu ali nos braços do povo, ao terminar o ultimo acorde da melodia, uma explosão de já ganhou, já ganhou para depois é campeão é campeão, e eu mesmo debaixo de toda aquela emoção me dirigi para o palco me abracei ao cantor e o agradeci no qual me respondeu - Eu cantei porque gostei muito do seu samba, se você me ganhar a escola estará bem servida (bons tempos aqueles quando sambista era sambista e a Escola ficava acima das vaidades pessoais). Depois da euforia veio a expectativa do resultado final, enquanto descansava-mos da batalha travada no terreiro onde cada galo tentava cantar mais alto, aguardávamos o resultado ouvindo o samba do ano anterior com que a escola havia conquistado o seu terceiro titulo consecutivo.
X - Foi se apresentado os sambas até que chegou a minha vez, estava muito nervoso já que como disse anteriormente eu não cantava direito, ainda mais com bateria, mas o que fazer tinha que apresentar minha obra, me lembro que suava em bicas quando peguei o microfone tremia mais que vara verde e o que me alentava um pouco era minha torcida de Cachoeiras de Macacu que gritava hora meu nome, hora já ganhou, liderada por Candinho, Jaburu, Dna. Nilza e Dna. Wanda. Ao acabar ao de cantar o meu samba sentido aquele alivio do dever cumprido, desci do palco com o coração jubiloso de alegria e agradecimento aquele publico sambista que soube respeitar a obra de um iniciante prestando a atenção na letra e na melodia e não na interpretação do cantor, sendo abraçado e parabenizado pelos meus amigo até que cheguei a subida para o camarote da quadra do Fluminense A. C, e e lá aguardei o resultado, quando ouvir a voz possante do locutor que naquele momento era do diretor Lenine que disse, infelizmente temos que afastar um samba concorrente, é a lei natural das coisas, e o samba afastado é o de Hugo Camburão e J. Maizena. Fez um silencio tão grande no recinto que até se podia ouvir o zumbido de uma mosca se por ali passasse, e a quadra começou a ficar fazia, quando eu olho para baixo vi o Hugo vindo em direção ao camarote seguido por Maizena, quando o mesmo começou a subir a escada eu do alto gritei - Pare ai mesmo Hugo não suba nem mais um degrau e diga o que você quer, e êle como se tivesse recebido uma descarga elétrica parou na mesma hora e disse - Queria lhe dizer que agora eu vou torcer para o samba de Flavinho e Tapê, e logo atraz Maizena disse e eu estou com você Heraldo e se retiraram de cabeça baixa, e eu fiquei ali com o meu pensamento explodindo de alegria e olhando a minha torcida batendo palmas de felicidade, e nesse momento fui me dando conta que estava numa final de samba enredo no meio de tantos compositores conhecidissimos em Niterói e eu que não esperava passar pelas primeiras elimitórias, depois daquela rejeição de toda a Ala de não quererem fazer samba comigo e eu ali numa final autor sozinho de um samba enredo, não bastava mais nada eu já era um vitorioso, agora tinha que comemorar. Passei sabado e domingo em Cachoeiras junto com meus amigos comemorando, chega segunda feira comecei a trabalhar para a grande final, que seria na sexta feira daquela semana, passei os meus momentos contado as horas e num trabalho incessante de arrumar minha torcida, ensinando o samba, preparando fogos, fazendo alegorias, com uma equipe maravilhosa de amigos e intusiastas do samba, marcamos um reunião para quinta feira na casa de Dna. Nilsa ás 20,00 horas para acertar-mo os ultimos detalhes da grande final, nada poderia faltar, naquela alegria de uma reunião de amigos Dna. Wanda quiz me preparar e falou-me -Heraldo você já é um vitorioso, olha que um compositor sair de uma cidade do interior e chegar a uma final na Cubango sozinho sem parceiros, nós devemos nos preparar e imaginar que a escola dificilmente dará um samba para um compositor que disputa pela primeira vez e vem de fora da comunidade, embora para mim que venho acompanhado a disputa o seu samba é o melhor disparado, mas dai a ganhar... Ai Jaburu que já tinha tomado umas e outras retrucou - É um passarinho me contou que amanhã nós vamos sair de lá com o caneco na mão, e eu vou beber todas, não é meu compadre Candinho no que Candinho respondeu com toda certeza e falar nisso vamos tomar umas por conta do Heraldo que já é Campeão. Chega sexta feira o dia da grande final, éra oito horas e a quadra da Escola de Samba Unidos do Gangury de Cachoeiras de Macacu estava lotada de torcedores de vez enquanto pipocava uns fogos e a rapaziada bebiam com moderação e na maior animação, quando deu 21,00 horas fomos colocando o pessoal dentro dos ônibus que me foram cedidos pela prefeitura; Afinal eu representava o município, sendo o primeiro cidadão da Cidade representa-lá nessa modalidade.
IX - Eis que chega o dia seguinte sexta-feira data da semi-final, por volta das 14,00 horas reuni um grupo de amigos, na quadra do Gangury uma Escola de Samba de Cachoeiras de Macacu, fizemos um rateio e compramos algumas caixas de cervejas e refrigerantes, ajeitamos uma possante aparelhagem de som, colocamos o samba para a galera aprender, e ali ficamos ensinando o samba até ás 20,00 horas, quando embarcamos em dois ónibus especiais rumo a Niterói, para a quadra da Cubango que ficava na Rua: Xavier de Brito ao lado da fuscaldeza, hoje Universidade Salgado de Oliveira "Universo", lá chegando coloquei os torcedores para dentro da quadra e fiquei ali na portaria da quadra esperando alguns torcedores retardatários, eu ali naquela expectativa vendo as pessoas adentrando a sede da Escola quando der repente surge Hugo Camburão e J. Maizena, com os seus torcedores, o curioso é que Hugo, Maizena e alguns torcedores além de trazerem as suas alegorias, como bandeiras etc., traziam também uma boa contidade de caixa o que me deixou com uma pulga atraz da orelha, o que trariam dentro daquelas caixas. Eu ali pensativo, quando Hugo se aproximou e me disse, - Hoje vocês vão ver com quantos paus se faz um canoa, e se retirou, passado algum tempo eu também entrei e fiquei num canto da quadra conversando com alguns amigos, quando faltava uns trinta minutos para comerça as eliminatórias, com a quandra já lotada, Hugo se dirige para um dos cantos da quadra, acompanhado de Maizena e alguns torcedores do seu samba, se ajoelha e começa acender umas velas como se estivesse rezando, se levanta anda uns dois metros e torna a se ajoelhar e acende mais um feicho de velas, e assim foi seguindo por toda a quadra obdesendo o mesmo ritual quando o recinto já estava coberto de velas acesas eis que alguém apaga as luzes da quadra que ficou iluminada só com o clarão das velas, ficando o local com uma beleza indescritivel, ai der repente começa um engraçadinho a cantar, "Quem parte leva saudade do ultimo bloco que vem....." e o canto foi tomando conta da quadra e o povo se empolgando, até que um diretor da Escola ascendeu as luzes da quadra mas mesmo assim o povo continuou a cantar quando se ouviu a voz possante de Lenine no microfone dizendo vamos começar as eliminatórias o primeiro samba a ser cantado e de fulano de tal, fez-se então silêncio na quadra para se escutar o primeiro samba da noite.
VIII - Passada a euforia da apresentação voltei a realidade, tinha que arranjar um cantor para interpretar meu samba já que Marinho da Muda havia me prevenido que só faria a apresentação do mesmo por compromissos assumidos anteriormente. Contactei o Jacy um cantor do Conjunto Ritms Boys, de Cachoeiras de Macacu, que aceitou defender o meu samba me prevenindo que não tinha experiência com bateria de Escola de Samba e que tinha compromissos nas datas tal e tal, datas essas que cairiam justamente na semi-final e final da disputa do samba enredo, o que se há de fazer aceitei assim mesmo, tudo combinado partimos para as eliminatórias, no decorrer das eliminatórias três samba logo se destacaram, o meu, o de Flavinho Machado com João Tapê e o de Hugo Camburão e J. Maizena, este por ser uma coxa de retalhos, isto é samba feito por vários pedaços de outros sambas, onde tinha um trecho que dizia assim; Quem parte leva saudade do último bloco que vem.... uma alusão inteira musicada do samba "tá chegando a hora", sucesso absoluto até os dias de hoje, por isso de fácil assimilação foi logo ganhando a quadra sendo cantado por todos até mesmo por ser motivo de gozação. Em determinada eliminatória realizada no Club Fonseca no bairro do mesmo nome, Hugo havia combinado com Maizena que quanto estivesse se aproximando da parte do samba que dizia quem parte leva saudade......, ele iria com o microfone para o meio da quadra e rodeado pelo povo, faria um sinal para Maizena e os dois parariam de cantar e deixariam só para o povo na certeza que seria uma explosão de canto e alegria no meio da massa. Combinado e feito no auge do samba quando toda a quadra cantava o seu samba Hugo largou o palco e se dirigiu para o meio da quadra, e lá fez o referido sinal ao Maizena e parou de cantar dizendo agora e com vocês meu povo, só que Maizena continuou a cantar no microfone, Hugo voltou seu olhar para o palco e irado gritou no microfone. Para de cantar Maizena seu burro seu filho da puta, ai a quadra parou de cantar e povo explodiu numa sonora gargalhada. E assim foi acontecendo as eliminatórias e os comentários surgiam de boca em boca, porque o samba de Hugo e J. Maizena não era cortado já que não estava no contesto da Escola, e a letra e a melodia não preenchiam as necessidades do enredo, quando alguém com sutileza perguntava ao Presidente o mesmo respondia que o samba estava fazendo uma festa na quadra, e lá ia o samba seguindo na competição, eis que chega a semana da Semi-final, eu estava numa preocupação só, como iria me virar já que o meu cantor não poderia mais cantar, por compromisso assumidos anteriormente, eu tinha auto-critica sabia que cantava mal e por isso se eu cantasse iria prejudicar meu samba, mas o que fazer seja o que Deus quiser, nisso chega quinta-feira véspera da Semi-Final, estava eu na esquina dos compositores de Niterói quando chega o Presidente Ney Ferreira e começamos a conversar entre mil e um assuntos eis que o Presidente em determinado momento me fala -Heraldo você me podia fazer um favor, já que se da muito bem com Hugo e ele te respeita muito vai prevenindo a ele que talvez o samba dele seja cortado amanhã, estou lhe pedindo isso porque o samba deve ser cortado e não gostaria que houvesse tumulto na quadra. No que prontamente lhe respondi -Olha Ney muita gente já havia previsto isso, mas já que a batata esta assando na sua mão, você mesmo tem que descascar, e sai dali fui para um bar na outra esquina, comecei a tomar uns chopes eis que passado uns vinte minutos surge Hugo Camburão eu lhe ofereci um chope e começamos a conversar, lá pelo décimo chope conversa vai conversa vem a gente já bem animado Hugo me fala é compadre a briga esse ano é entre eu e você, só que desta vez o povo quer o meu samba a voz do povo é a voz de Deus vai ganhar eu. No que respondi olha Hugo eu ouvi um zum zum zum pode ser que seja até boato que o seu samba será cortado amanhã, Hugo me olhou sério e disse - Tá maluco tá todo mundo cantando o meu samba, no que respondi - O seu samba tem uns probleminhas você sabe como é e mais a mais onde a fumaça a fogo. No que retrucou - A é vocês estão e de armação espera amanhã que vocês vão ver o que estou preparando, mandou fechar a conta e saiu possesso.