V - Ouvimos o samba na rádio, ficou muito bom, outro amigo disse é a escola vai ficar bem representada se o seu samba ganhar. Um diretor da escola presente no local falou é se quiserem ganhar na Cubango vão ter que ganhar de você, ouvindo aqueles comentários pelo menos de uma coisa eu tinha certeza, de que estava no caminho certo, sai dali fui para casa ansioso que passasse o tempo rápido e chegasse logo o dia seguinte para fazer a gravação, na tarde seguinte lá estava eu bem cedo na rádio aguardado o pessoal para gravarmos, foram chegando o pessoa do Grupo Realidade, logo em seguida Zé Galego só faltava o Marinho da Muda, os minutos foram passando e comecei a ficar preocupado, vem logo na nossa cabeça a pergunta, será que o cara vem?. O Marinho ficou famoso como cantor e compositor, com o samba de carnaval ( A nega é minha ninguém tasca eu vi primeiro...), tinha estourado na parada de sucesso com (Contos de Areia) gravado por Clara Nunes, veio em minha mente turbilhões de pensamentos milhões de divagações, " não seria muita pretensão de minha parte querer que no meu primeiro samba eu tivesse um studio de rádio para gravar, um conjunto famoso para acompanhar a musica e ainda mais uma estrela de primeira grandeza no céu desse mundo que é o samba, para colocar a voz, porque tudo isso se nem dinheiro eu possuia para pagar os artistas?". E nesse universo de incerteza, passou-se uma hora que parecia uma eternidade, até que para aliviar minha tensão eis que chega Marinho das Muda, sorridente e brincalhão foi logo dizendo -É eu me atrasei porque fiquei na duvida se vinha ou não vinha, cara um samba ruim e o compositor mal encarado desse eu balancei , e caiu na gargalhada fazendo todo mundo rir no studio, e depois de alguma gozações com outras pessoas, falou-me não leve a mal as brincadeiras isso é para elevar a moral botar o astral bem alto para sai uma boa gravação já que o samba é muito bom, logo em seguida Galego chamou o violinista e o cavaquinista para junto com Marinho tirar o tom do samba, dando inicio assim a tão esperada gravação. Ao terminar a gravação meus olhos estavam marejados, eram lágrimas de felicidade, ali naquele momento passei a compreender o siguinificado do que era ser comunidade do samba, união de sambista, compositores da calçada (como eram denominados os compositores do ponto que faziam parada na Galeria 277, final da Rio Branco. E 13 de maio com Almirante Barroso perto do antigo tabuleiro da baiana no Rio de Janeiro. Não era dinheiro, vaidades e nem pensamentos impuros e sim a humildade e amor a arte e ao samba que fizeram com que aqueles nobres amigos me ajudassem a iniciar minha carreira numa estrada de magia , ilusão e fantasia estrada essa que me conduziria ao mundo da arte do samba, e começasse a minha saga, saga de um sambista.
IV - Pedi desculpa ao público presente e aos ouvintes de casa, eu iria mostrar meu samba não como cantor que por sinal cantava muito mal, mas sim como compositor e comecei a cantar, ao terminar de apresentar a minha obra, aliviado fiquei quando ouvi os aplausos da plateia, percebendo ali naquele momento como o mundo do samba é diferente, respeitoso, incentivador e inteligente, prestaram a atenção na minha musica na minha letra e não na minha voz que com certeza estava ferindo aos ouvidos de cada um ali presente, ao sair para descer do palco Zé Galego pediu-me que não saísse do auditório sem falar com ele, me deixando ali curioso esperando, o que iria ele falar comigo?. Terminando o programa me dirigir ao Zé que foi logo me dizendo o seu samba é bom tem muita qualidade, porque você não faz uma fita e para divulga-lo, passando a me orientar como se trabalha um samba enredo, nisso chamou o Marinho da Muda me apresentou, que também elogiou o samba e disse ao Marinho, Mário vamos ajudar o Heraldo o samba e bom e além de tudo eu sou Cubango e quero o melhor para minha escola e gostaria que você colocasse a voz no samba. Ali mesmo pegamos um gravador portátil, eu gravei uma mostragem só para o Marinho aprender, e marcou a gravação para o dia seguinte e além disso tudo pediu ao conjunto Realidade que acompanhassem a gravação, sai da rádio peguei a barca Rio-Niterói, sentei num dos bancos olhando ao horizonte la pela saída da barra vislumbrei de um lado a fortaleza Santa Cruz em Jurujuba do outro o Pão de Açúcar o forte Laje e bem perto logo ali na minha frente a Escola Naval margeando o aeroporto Santos Dumont, e contemplando aquele céu azul claro de uma tarde de verão refletindo nas águas límpidas, também azuis do mar com suas ondas cintilantes tudo de uma beleza esplendorosa, dei asas a minha imaginação como pode alguém duvidar da existência de um ser maior soberano, causa primária de todas as coisas, estava ali diante dos meus olhos a natureza exuberante, as pessoas povoando aquela embarcação com suas alegrias ou incertezas, com suas oportunidades de se redimir dos erros passados concedido por um Pai de infinito amor, estava ali também no pulsar de tantas vidas a prova cabal da existência de Deus. Despertei para a realidade, olhando as pessoas, na minha ilusão pensava que estavam me olhando como se dissessem, ali esta o compositor daquele samba que nós ouvimos na rádio, pobre pensamento, pobre fantasia, aqueles que ocupavam aquela embarcação estava vindo do trabalho preocupados com seus cotidiano, nem ouviram rádio, mas era bom pensar, e com esses devaneios cheguei em Niterói, seguir rumo a Coronel Gomes Machado até chegar a esquina com Visconde de Uruguai como já disse anteriormente onde se concentrava sambistas e jogadores de futebol de Niterói, alguns sambistas ao me ver foram logo dizendo...

Continuação...








Indo com minha noiva a um baile de formatura da faculdade Santa Dorotéa na cidade de Nova Friburgo, após dançarmos até altas horas da noite, resolvemos tomar o rumo de casa em Cachoeiras, ao descermos a serra a lua despontou radiante, iluminando a natureza, e olhando do alto na direção do Rio de Janeiro com o clarão das luzes que refletia sobre aquela cidade e sentindo o aroma das matas que margeavam á estrada nos sentimos inebriados com aquele perfume e com a beleza que se descortinava á nossa frente e enquanto minha mente viajava contemplando tamanha beleza no silêncio da Madrugada, eis que sou despertado pela voz da minha companheira ao lado dizendo - Até parece que a natureza integra a Madrugada, aquele som bendito, da voz da minha musa inspiradora penetrou em minha mente como se fosse um raio de luz me tirando da escuridão, acendendo a minha inspiração em inércia a tantos dias e nasceu o primeiro verso daquele que seria o meu tão almejado samba. Parei o carro no acostamento e sob o farol do meu fusca com o gravador e a sinopse ao lado comecei a minha obra, vai aqui a letra do samba, já que nunca foi gravado porque naquele tempo as escolas de Niterói não gravavam seu sambas; Faz parte da natureza/O esplendor da Madrugada/A cubango com sua graça e beleza/Faz dela sua eterna namorada/Madrugada ó Madrugada/Das boates, casinos e hotéis/Do boémio no bar na calçada/Entoando canções a sua amada/Das gafieiras e majestosos salões/Damas da noite/Vendedoras de ilusões/E sob o luar prateado/La no lendário sertão/O caboclo canta lendas/Dedilhando o seu violão/VAI VAI VAI PESCADOR/JOGA A REDE NO MAR/É MADRUGADA TEM ALGUÉM A LHE ESPERAR/Confetes e serpentinas/As Escolas na avenida em evolução/Pierrot, Arlequim e Colombina/É o carnaval da multidão/Tem Umbanda e Candomblé/Nos mais lindos rituais/O povo cheio de fé/Prestam homenagem aos Orixás/AO ROMPER DA ALVORADA/VENDEDORES A GRITAR/ E BAIANAS VENDENDO COCADAS/OLHA AI QUEM VAI COMPRAR/O bloco de sujo desfilando/Quando o sol resplandece no horizonte/Pássaros cantando em revoadas/Surge um novo dia radiante (Tudo isso é Madrugada.
Quando acabei de escreve a bateria do carro estava quase descarregada o que não me causou dificuldades já que estávamos descendo a serra, viemos descendo já com o esboço do samba pronto e eu solfejando a melodia , feliz como um pinto no lixo o que queria mais ?. Samba pronto mulher amada do lado, agora era só dar prosseguimento aos trabalhos. Idealizei fazer uma gravação em fita para fazer a divulgação do meu samba o que era muito em moda naqueles tempos, eu sabia que na ocasião havia um programa de samba na rádio Roquete Pinto, que ficava na rua Almirante Barroso em frente ao foro do rio. programa esse que era comandado por Zé Galego locutor muito respeitado e ligado aos sambistas e que seu programa era ao vivo e frequentado pela nata de compositores e puxadores de samba do Rio de Janeiro, e esses baluartes eram acompanhados pelo excelente conjunto Realidade sobre a liderança de Teteu. (Pertencia a esse grupo, Marquinhos Lessa, Almir Araujo, que mais tarde foram ganhadores de samba de sucesso na Caprichosos de Pilares, chegando a gravar com a cantora Simone, esse conjunto teve participação numa novela das oito horas na TV Globo onde abrilhantavam uma gafieira. É bom ressaltar que Teteu líder desse grupo, após a novela terminar ficou trabalhando naquela emissora e hoje faz parte da produção geral de Carnaval da mesma.) Voltando ao programa de Zé galego, indo ao mesmo la me enturmei com grandes compositores como Dedé da Portela, Carlão Elegante, Luiz Grande, Marinho da Muda, Ary do Cavaco, Otacilio da Mangueira e muitos outros e naquela conversa animada de sambistas me perguntaram a que escola eu pertencia e eu mais que depressa falei -Sou da Cubango de Niterói e vou disputar a competição de samba enredo esse ano, ai aconteceu o pior. Ary do Cavaco querendo me ajudar falou sem eu saber com Zé galego a meu respeito o mesmo me colocou na relação dos compositores que iriam se apresentar naquela tarde. Começou o programa foram se apresentado os cantores-compositores cada qual com seu estilo, e eu ali radiante assistindo e aplaudindo os meus ídolos, me lembro que Baianinho compositor da Em cima da hora, acabou de se apresentar depois dos aplausos ouvi a voz solene do apresentador! E agora com vocês para apresentar o seu samba que vai disputar as eliminatórias deste ano na Académicos do Cubango, Heraldo Faria. Ao ouvir os aplausos iniciais eu sentia o mundo desabar, e agora?. Tinha medo de cantar até na escola, como iria encarar o microfone de uma rádio e ainda mais com a audiência que o programa tinha naquele horário ao ouvir me chamar pela segunda vez, me levantei com as pernas tremulas, suando em bicas cheguei ao palco peguei o microfone e...... continua...













II - Acabando as comemorações do carnaval de 1977, começa os preparativos para o carnaval de 1978, e eu numa ansiedade só, queria porque queria conhecer o enredo e sair a procura de um parceiro para fazer um bom samba já que a minha experiência se limitava a fazer musicas para festivais muito em moda na época, embora já havia feito alguns sambas para a Unidos do Gangury uma escola de samba de Cachoeiras de Macacu, cidade onde moro. E naquela expectativa e aguardando o dia da entrega da sinopse, compus um samba de quadra que era obrigatório a qualquer compositor que ingressasse na Escolas de samba daqueles tempos, pegando como motivo o meu ingresso na escola, comecei minha obra assim "Cheguei cheguei, a onde eu queria chegar/ a minha escola querida e junto ao meu povo cantar". Foi um experiência gratificante, já que o samba teve otima aceitação na quadra pelo publico, e também tendo em vista que naqueles tempos as Alas de compositores eram muito fechadas e a da Cubango não fugia a regra e para ter ingresso as mesmas, tínhamos que fazer testes poético musical, noventa e nove por cento dos compositores da Escola eram realmente compositores por tudo isso os sambas de quadra eram de alto nível, agora vocês imaginam como seria a disputa de samba de enredo. Passado o tempo eis que chega o grande dia, o momento tão esperado nós iríamos tomar conhecimento do nome do enredo e do conteúdo da sinopse. Como comentei anteriormente, antes a entrega da sinopse, procurei fazer uma parceria dentro da ala para compor e disputar o samba, ai, veio a primeira decepção, não encontrei ninguém que quisesse ser meu parceiro, para isso usavam de vários argumentos, uns dizia quer já tinham parceiro outros que estavam resolvendo se fariam ou não samba etc.etc.. Até que descobri a verdade: Alegações essas que me deixou mais ainda entristecido; a) Que eu morava na roça. b) Que por ter entrado para a ala de compositores da escola recentemente , não teria prestigio junto a Diretoria da mesma. c) Não teria norral dentro da Cubango e nem no mundo do samba (era mero desconhecido da comunidade), por esse motivo não teria torcedores para apoiar e cantar o meu samba. E foi com o pensamento embaralhado e aquele sentimento de rejeição que encarei a minha primeira reunião de entrega do tema em uma Escola de Samba. Começa a reunião um dos diretores da comissão de carnaval fala. - O nosso enredo é "Madrugada" e gostaríamos que os compositores iniciasse o samba colocando a Cubango dentro da "Madrugada", e que vocês pegassem tudo que existe na Madrugada; falassem de hotéis ou motéis, casinos, casas de tolerâncias, dos bêbados nos bares nas calçadas com o pensamento voltado para sua amada, salões de baile, gafieira, prostitutas e que os compositores fizessem uma viagem atráves da imaginação aquelas terras áridas sertaneja e falassem do sertanejo tocando o seu violão, dos pescadores que sai pela madruga para pescar, do carnaval a maior festa popular do pais onde as grandes Escolas de Samba é o ponto alto, do pierrot jogando confetes enquanto a colombina jogava serpentina na multidão, depois da Umbanda, Candomblé com suas festas suas danças, os camelos gritando vendendo suas mercadorias e as baianas seus quitutes, seus doces. E quando vem clareando o dia, os blocos de sujo com suas batucadas pelas ruas acordando os pássaros que em revoadas fazem uma verdadeira festa canora e esse sol que resplandece no horizonte faz vocês compositores acordarem para a realidade e dizer tudo isso e Madrugada. e para finalizar a explanação do enredo disse -Queríamos que fosse inseridos todos os adjetivos da sinopse na letra, e um samba com frases curtas e com no máximo vinte e seis linhas, pediu para que os compositores lessem a sinopse e depois poderiam perguntar sobre o tema. Passados alguns segundos, eu na minha ingenuidade de estreante perguntei. Como poderíamos fazer um samba com frases pequenas, e com vinte e seis linhas num tema tão vasto?. Foi ai que o presidente da Escola Ney Ferreira tomou da palavra fazendo a seguinte colocação; (Primeiro ), que a letra do samba pudesse dar a verdadeira interpretação do enredo seguindo a ordem cronológica do escript; (Segundo), Que fosse um samba com melodia bonita, harmonioso e de fácil assimilação ou seja bom para um desfile; (terceiro), Que quanto a colocação da Cubango dentro da Madrugada, não era obrigatório , o que a Escola precisava era de um otimo samba, seja grande ou pequeno o melhor venceria; Finalizando pediu aos compositores que se esforçasse o máximo já que a responsabilidade da Escola era muito grande por ser tri-campeã do carnaval de Niterói na época considerado até por Jorge Amada como o segundo carnaval do Brasil, e desejando a todos e boa sorte a todos. Deixei a reunião em estado de êxtase assim como um jovem que fosse pela primeira vez encontrar com uma garota. Na ansiedade de mostrar o meu valor, já que estava com meu orgulho ferido por ter sido preterido e por isso ter que fazer o samba sozinho, doido para chegar em casa e começar a escrever, ao chegar peguei papel caneta e o gravador, li, reli a sinopse varias vezes e por mais que me concentrasse nada cedê a inspiração não me vinha a mínima ideia de como iniciar o samba, é bom salientar que minha mãe morava na rua Padre Anchieta nº 9, onde me hospedava quando ficava em Niterói, e ali passei aquela noite praticamente em claro, na noite seguinte peguei meus apetrechos de trabalho e comecei a caminhar pela rua São Sebastião, Praia da Flechas e cheguei a Praia de Icarai, era uma noite linda onde o clarão da lua deitava sobre as ondas oscilante do mar ao longe via os barcos de pesca passarem para mais um noitada de pescaria, e eu ali dando asas a minha imaginação o que imaginava passava para o papel, mas o que escrevia não me agradava talvez por querer fazer o melhor, escrevia, escrevia e nada e assim passei algumas noites-madrugada, e uma angustia louca foi tomando conta do meu pensamento, o que estaria acontecendo comigo eu sempre conseguia tirar do nada o tudo embaralhando palavras tiradas do cotidiano formando frases, contos, versos e histórias e colocando notas musicais formando uma infinidade de canções. O que seria? Vontade, pressa, raiva, medo ai parei pensei, vou dar um tempo o que há de ser será!. Até que alguns dias depois.....continuaremos mais tarde